O sofrimento psíquico
manifesta-se ultimamente sob a forma de depressão. Atingindo no corpo e na alma
por essa estranha síndrome em que se mistura a tristeza e a apatia, na busca da
identidade e no preenchimento do vazio de seus desejos. O sofredor não acredita
mais na validade de nenhuma terapia. Por isso, passa da psicanálise para a
psicofarmacologia.
As facilidades contemporâneas tornou-se uma espécie de ópio social. As promessas de alongamento do tempo funcionam como um chamariz mercadológico, porque, na verdade, o tempo é cada vez mais escasso e penoso.
Quando nos referimos ao tempo, não falamos do tempo “cronos”, que pode ser mensurado e quantificado, nos referimos ao tempo subjetivo, àquele que precisamos significar com nossas impressões e interpretações. E para esse tempo, não há tempo...
Afundamos-nos em atividades vazias, investimos em relacionamentos virtuais desprovidos de autenticidade, gastamos o “cronos”, e assim, perdemos contato com o que nos torna verdadeiramente humanos, a subjetividade.
Como lidar com algo
subjetivo que é o sofrimento, e, portanto, humano, no mundo “cronos” e da objetividade? Entregando-nos
ao mecânico e acelerado processo da medicina científica, ou de qualquer outra
milagrosa promessa de alívio e de paz. É por isso que assistimos, em especial
nas sociedades ocidentais, a um crescimento inacreditável do mundinho dos
curandeiros, dos feiticeiros, dos videntes e dos magnetizadores, o cientificismo
cognitivo, e pseudoautores de teorias psíquicas, um embate dos que valorizam o
homem-máquina em detrimento do homem desejante. Afinal, não temos tempo para
refletir sobre a origem da infelicidade. É preciso ser rápido. Assim, passamos
da era do confronto para a era da evitação, e do culto da glória para a revalorização
dos covardes.
Não surpreende, portanto, que a infelicidade que fingimos exorcizar retorne de maneira fulminante no campo das relações sociais e afetivas: recurso ao irracional, culto das pequenas diferenças, valorização do vazio e da estupidez, etc. A violência da calmaria, às vezes, é mais terrível do que a travessia da tempestade.
Nesse sentido, a psicanálise está violentamente contra esta onda. Ela não se entrega a covardia da rapidez, do pronto atendimento psíquico, e da substituição do sofrimento por um alívio sazonal. Não se acaba com o sofrimento fugindo dele, mas enfrentando-o, aliás, não se acaba com o sofrimento, nós aprendemos a sofrer com dignidade, afinal, somos verdadeiramente humanos.