sexta-feira, 30 de março de 2012

Por que a Psicanálise?



O sofrimento psíquico manifesta-se ultimamente sob a forma de depressão. Atingindo no corpo e na alma por essa estranha síndrome em que se mistura a tristeza e a apatia, na busca da identidade e no preenchimento do vazio de seus desejos. O sofredor não acredita mais na validade de nenhuma terapia. Por isso, passa da psicanálise para a psicofarmacologia.

As facilidades contemporâneas tornou-se uma espécie de ópio social. As promessas de alongamento do tempo funcionam como um chamariz mercadológico, porque, na verdade, o tempo é cada vez mais escasso e penoso.

Quando nos referimos ao tempo, não falamos do tempo “cronos”, que pode ser mensurado e quantificado, nos referimos ao tempo subjetivo, àquele que precisamos significar com nossas impressões e interpretações. E para esse tempo, não há tempo...

Afundamos-nos em atividades vazias, investimos em relacionamentos virtuais desprovidos de autenticidade, gastamos o “cronos”, e assim, perdemos contato com o que nos torna verdadeiramente humanos, a subjetividade.
Como lidar com algo subjetivo que é o sofrimento, e, portanto, humano, no mundo “cronos” e da objetividade? Entregando-nos ao mecânico e acelerado processo da medicina científica, ou de qualquer outra milagrosa promessa de alívio e de paz. É por isso que assistimos, em especial nas sociedades ocidentais, a um crescimento inacreditável do mundinho dos curandeiros, dos feiticeiros, dos videntes e dos magnetizadores, o cientificismo cognitivo, e pseudoautores de teorias psíquicas, um embate dos que valorizam o homem-máquina em detrimento do homem desejante. Afinal, não temos tempo para refletir sobre a origem da infelicidade. É preciso ser rápido. Assim, passamos da era do confronto para a era da evitação, e do culto da glória para a revalorização dos covardes.

Não surpreende, portanto, que a infelicidade que fingimos exorcizar retorne de maneira fulminante no campo das relações sociais e afetivas: recurso ao irracional, culto das pequenas diferenças, valorização do vazio e da estupidez, etc. A violência da calmaria, às vezes, é mais terrível do que a travessia da tempestade.

Nesse sentido, a psicanálise está violentamente contra esta onda. Ela não se entrega a covardia da rapidez, do pronto atendimento psíquico, e da substituição do sofrimento por um alívio sazonal. Não se acaba com o sofrimento fugindo dele, mas enfrentando-o, aliás, não se acaba com o sofrimento, nós aprendemos a sofrer com dignidade, afinal, somos verdadeiramente humanos.

Um comentário:

  1. Eu concordo... mas, me pego a pensar... o grande problema é que na ordem atual, desse capitalismo desenfreado e diria perverso, não nos sobra "cronos" para viver essa depressão, que faz parte da nossa condição de ser humano. A impressão que eu tenho, é que vivemos dentro de um aquário redondo como cardume de sardinhas que nadam sem parar em círculos, não dá tempo para parar, não dá tempo para pensar, não dá tempo de ser humano. Mataram Kairos... mataram os humanos... parece que já não há mais saída desse mundo robótico onde quem não se encaixar na atual configuração, é convidado a viver em um planeta distante...

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